Atualização: 26/02/99

NEW AGE

o início de uma pobre era...




Os partidários da chamada Nova Era afirmam que já entramos na "Era de Aquário". Eles afirmam que essa "nova era" é o começo de uma renovatio espiritual. Será que é isso mesmo que ela significa? Nós não acreditamos nisso e explicaremos a seguir o porquê.

O que todas as religiões reveladas afirmam é que a humanidade está em uma progressiva decadência e que caminha para um fim catastrófico e inevitável. O que a New Age afirma é que estamos progredindo, caminhando para um novo florescimento espiritual. (Nós até podemos concordar com essa última afirmação, desde que se afirme o fim catastrófico que deverá precedê-la).

As religiões mais explícitas em relação à progressiva decadência da humanidade afirmam que ela está dividida em quatro estágios descendentes, que na antiguidade clássica eram denominadas de Idade do Ouro, Idade da Prata, Idade do Bronze e Idade do Ferro. E convém observar que estamos na Idade do Ferro desde muito tempo antes da antiguidade clássica. As doutrinas hindus dividem igualmente em quatro estágios descendentes o ciclo de desenvolvimento da humanidade ou Manvantara (Krita Yuga, Treta Yuga, Dwapara Yuga e Kali Yuga), e afirmam também que nós estamos no último desses estágios. Da mesma forma, entre os índios norte-americanos, dizia-se que um bisonte colocado no oeste retinha as águas que ameaçavam a Terra, e que com o decorrer do tempo ele ia perdendo seus pêlos e suas quatro patas. Eles afirmam que hoje em dia o bisonte está quase sem pêlos e está apoiado em apenas uma pata.

Segundo a doutrina dos ciclos que mencionamos acima, a passagem de um estágio a outro é sempre demarcada por grandes acontecimentos que mudam a própria aparência física do planeta. De acordo com o historiador de religiões Mircea Eliade, "a passagem de um Yuga a outro processa-se (...) através de um crepúsculo que marca um decrescendo no próprio interior de cada Yuga, cada um deles terminando num período de trevas. À medida que se aproxima o fim do ciclo, ou seja, do quarto e último Yuga, as trevas adentram-se. O Kali Yuga, aquele em que nos encontramos atualmente, é aliás considerado como a idade das trevas" (O Mito do Eterno Retorno, Edições 70, Portugal). Após o término do último estágio (a Idade do Ferro) um novo ciclo descendente se iniciaria através de uma nova Idade do Ouro.

Como deveríamos situar, então, a tão propagada "Era de Aquário" dentro deste contexto da teoria dos ciclos? O que os propagadores da renovatio espiritual deveriam ter em mente é que a "Era de Aquário" é apenas uma era astrológica, ela não representa um estágio da doutrina dos ciclos. As eras astrológicas, que se diz terem 2160 anos, implicam em mudanças lentas, principalmente nos campos social e cultural; ao contrário, a passagem de estágios descrita na doutrina dos ciclos ocorre em períodos muito mais longos e é sempre marcada por mudanças abruptas em todos os domínios.

O que é mais inquietante para nós é que, de acordo com os estudos de Gaston Georgel, "o próximo Fim dos Tempos será imediatamente precedido pelo advento do Anticristo, que os cabalistas identificam como a Era de Aquário ". Portanto, ali onde os partidários da Nova Era vêem os sinais de progresso espiritual deveríamos talvez ver os indícios de uma outra coisa...

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Os integrantes do movimento "Nova Era" caracterizam-se principalmente por uma aspiração vaga sobre uma noção pobre de espiritualidade, que na maioria dos casos não passa de mero sentimentalismo, e aceitam de bom grado estados de "relax" como se fossem estados espirituais! Não é preciso ir muito longe para encontrar adeptos do movimento. Só aqui na Internet existem aos montes! Visitando os sites do movimento percebe-se como o excesso de sentimentalismo dilui qualquer noção intelectual verdadeira.

O fenômeno "Nova Era" é mundial. Dos EUA à Europa, passa-se pela América do Sul e observam-se as mesmas características. Na França, o "mago" Paulo Coelho é campeão de vendas! (e seus livros não passam de bobagens sentimentalóides com valor literário nulo). Falando no dito-cujo, sabemos de uma entrevista antiga do "mago", dada a um extinto programa de TV (Cara a Cara com Marília Gabriela) e a uma revista (Ano Zero, agosto/92), na qual ele afirma que havia encontrado o seu mestre no ex-campo de concentração de Auschwitz (um local muito espiritual, sem dúvida!!!).

Esses grupos new age, em geral, não chegam a ter um caráter muito prejudicial à maioria das pessoas, embora as façam perder tempo em coisas sem o menor valor. Há, entretanto, certos grupos não exatamente new age - mas que podem e certamente vão se aproveitar dessa onda - onde se observa uma pseudo-doutrina que toma elementos tirados ao acaso de doutrinas orientais autênticas. A característica dessas organizações é fundir num mesmo caldeirão elementos das mais diversas procedências produzindo uma pseudo-doutrina sem a menor unidade espiritual, sendo que cada um pode achar nelas aquilo que bem quiser (e esse é o caso de uma certa Sociedade Teosófica). O que caracteriza uma doutrina espiritual autêntica é a harmonia que existe entre os princípios doutrinais e os métodos de realização espiritual. Assim, não se pode admitir que um cristão recite um mantra hindu, que um budista medite em Cristo ou que um judeu receba a comunhão. A harmonia espiritual não permite que uma forma religiosa se misture com outra forma que lhe é estranha, pois isso criaria um "choque" entre os "suportes" psíquicos que veiculam as influências espirituais em ação. O estudo comparativo das religiões é uma coisa, misturá-las na prática como fazem as seitas é outra bem diferente...

Na mesma ordem de coisas, os movimentos espíritas correm paralelos ao movimento new age. Devemos acrescentar que o espiritismo também não possui nada de verdadeiramente espiritual. A incorporação de "entidades" pelo médium constitui um sério risco de distúrbio psíquico e físico tanto para ele como para os consulentes. As entidades que agem sobre o médium não possuem nada de espiritual; são, nos casos mais graves, forças pertencentes ao mundo anímico (e algumas vezes possuem um caráter realmente ignoto).

Talvez também seja útil citar aqui que existem outros tipos de movimentos com caráter já nitidamente pernicioso à saúde psíquica de seus seguidores. São organizações onde se incentiva a prática de certos exercícios que acabam por desenvolver o psiquismo mais inferior do ser, podendo ainda se encontrar, em alguns casos, certas práticas de desenvolvimento parapsicológico ou até de "magia negra". Exemplo deste tipo se encontra nos seguidores de Aleister Crowley (personagem que Paulo Coelho idolatrava na sua juventude) e também, em certa medida, nos ensinamentos de um certo caucasiano careca e bigodudo... Seja como for, não é nossa intenção analisar essas seitas em detalhe e achamos que já dissemos o suficiente para a maioria das pessoas se precaverem.

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Nós dizíamos anteriormente que a doutrina dos ciclos afirma que um fim catastrófico deverá se produzir mais cedo ou mais tarde. Não iremos fazer previsões de quando isso pode ocorrer, pois tal tipo de atitude geralmente apenas serve para criar mais confusão e histeria coletiva e, como disse Guénon, "nenhuma tradição ortodoxa jamais incentivou as investigações por meio das quais o homem possa chegar a conhecer o futuro em uma medida mais ou menos ampla, pois tal conhecimento apresenta praticamente muito mais inconvenientes que vantagens verdadeiras" (Formes Traditionnelles et Cycles Cosmiques , Gallimard). O que é bom lembrar aqui é que todos os dados tradicionais indicam que estamos numa fase adiantada da "Idade Sombria".

Gostaríamos ainda de advertir as pessoas de que os "poderes" e "milagres" que alguém possa produzir - sejam eles médiuns, magos, pseudos-yoguis, ou o que quer que sejam - não significam, a priori, nenhum indício de espiritualidade. Seria bom lembrar hoje - mais do que nunca - essas palavras do Evangelho: "Pois hão de surgir falsos Cristos e falsos profetas, que apresentarão grandes sinais e prodígios de modo a enganar, se possível, até mesmo os eleitos" (Mt24,24).




Artigos:



Textos Selecionados:

 


Leituras recomendadas:

- GEORGEL, Gaston. Les quatre Âges de l'Humanité , Milano, Archè, 1976.

- ELIADE, Mircea. Ocultismo, Bruxaria e Correntes Culturais , Minas Gerais, Interlivros , 1979.

- GUÉNON, René. El Teosofismo, historia de una pseudo-religión, Barcelona, Obelisco, 1989.

- GUÉNON, René. L'erreur spirit, Paris, Ed. Traditionnelles, 1991.

- PERRY, Whitall N. Gurdjieff a la luz de la tradición , Barcelona, J.J. de Olañeta.

- SASAKI, Ricardo. O Outro Lado do Espiritualismo Moderno - Para Compreender a Nova Era , Ed. Vozes.



nova_era@hotmail.com