OS VIDENTES E O FUTURO


 

A procura por videntes, adivinhos, tarólogos, cartomantes ou seja lá o que for é uma característica muito marcante da nossa época e podemos observar que é uma tendência que vem crescendo de forma preocupante. Por toda a parte podemos encontrar pessoas querendo saber o futuro achando que poderão se beneficiar de tal conhecimento.

O problema é que tudo o que se pode dizer de videntes "sinceros" é que eles podem ter uma visão mais ou menos nebulosa do futuro, mas nunca ter uma noção exata a respeito dele. Dessa forma, a visão que o vidente tem - e misturada ainda com as suas próprias tendências pessoais ou das pessoas que possam estar por perto - dão origem a interpretações que o mínimo que se pode dizer é que são pouco precisas.

Tendo isso em mente (de que na hipótese mais otimista a predição do vidente é algo possível, mas sem que se possa afirmar ser ela a possibilidade mais provável ou a definitiva) , haveria alguma utilidade em ter previsões a respeito do seu próprio futuro? A resposta a tal questão é negativa, pois a pessoa ao se consultar com um vidente acaba por limitar suas próprias possibilidades quanto ao seu próprio futuro. Havendo um certo número de possibilidades em relação ao futuro - e o vidente enfatizando uma delas em detrimento de outras que possam existir - acaba-se criando condições para que a possibilidade proposta pelo vidente se cristalize fortemente no subconsciente da pessoa e venha a se concretizar de fato. E mesmo se tal possibilidade não vir a se concretizar, o próprio fato de se aguardar que ela aconteça acaba gerando uma extrema ansiedade na pessoa, pondo perigosamente em risco sua saúde psíquica. E mesmo se existisse alguma forma precisa de se saber o futuro, ainda assim as possibilidades do ser poderiam ficar comprometidas. Um acontecimento qualquer está em relação com outros acontecimentos, e ao se ter conhecimento exato de um evento futuro, pode-se estar afetando a normalidade de outros acontecimentos relacionados ao primeiro.

Nas sociedades antigas também se usava a adivinhação, mas era de uma outra maneira. Utilizava-se segundo o próprio sentido etimológico da palavra adivinhar, tornar divino. A advinhação usada dessa forma era legítima, e ela era usada sempre com propósitos relativos a questões de doutrina espiritual ou em certos casos na administração política (sendo que o poder político e o religioso - quando separados - ainda mantinham estreita relação e o primeiro tirava sua legitimidade do segundo) e ela nunca deveria ser usada para questões de caráter individual. Os métodos então utilizados estavam em relação com a religião revelada vigente e eram manipulados por pessoas qualificadas. Essas eram as condições normais e ideais, mas havia também as exceções. Principalmente nas camadas populares havia adivinhos como os de hoje, e mesmo em certos reinos a degeneração chegou a níveis semelhantes quando o governante e seus conselheiros não tinham as qualificações necessárias para exercer as suas funções.

É importante assinalar ainda a particularidade que existe nas profecias contidas nos livros sagrados. Essas profecias são de inspiração eminentemente espiritual e são acontecimentos que deverão inevitavelmente se concretizar no futuro. Apesar do caráter inevitável dessas profecias, vemos que sua interpretação é muitas vezes tendenciosa (assim como em muitas outras coisas relativas aos textos sagrados). Essa profanação das profecias deve colocar as pessoas em guarda contra aqueles que querem utilizá-las para seus próprios fins (que nunca são nobres, diga-se de passagem...). Geralmente a interpretação tendenciosa das profecias tem como finalidade ressaltar algum aspecto tenebroso com a finalidade de recrutar os incautos para alguma seita pseudo-espiritual.

Para finalizar, gostaríamos de dizer que nós temos consciência da tentação que é para a maioria das pessoas saber coisas relacionadas ao futuro. Mas esperamos que o pouco que dissemos as façam compreender a pouca utilidade e até mesmo a periculosidade de um conhecimento deste tipo. O budismo costuma dizer que "o passado já se foi, o futuro ainda não veio, vivendo no presente, sabemos que este é o melhor momento". Há também um ditado popular que diz que "o futuro a Deus pertence". Talvez já esteja na hora de se compreender a veracidade destas palavras.